sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Cabo Verde (ilha do sal)




Sentir intenso de sabores
Na pele madura,
Quente e rubra,
Dos meus fugazes amores...

Suave aroma do barro,
Do corpo nu, a descoberto,
Onde, em desejo, me amarro
Nessa mistura de gentes e deserto!

Trago, ainda, nos pés a tua areia,
No baloiçar das ancas, um madrigal,
Nos meus olhos os teus de lua cheia...


Assim danço, ao ritmo desse som tropical,
Despida, num corpo a que sou alheia,
E onde estas lágrimas derramam o teu sal.

segunda-feira, 31 de outubro de 2005

Esta agulha com que me coso


Quando chegas perto o meu corpo em brasa derrete e a minha alma fica à deriva.
Dás-me um banho de beijos que são só meus e um pedaço de vazio que não me pertence.
Nesse tronco grosso mas partido que é a tua vida, o meu lugar é bem escondida do lado esquerdo e eu não tenho pressa em ficar... Vou-me enroscando no mimo que tu me dás bordando um madrigal de promessas em silêncio.
Tua boca é um cristal de onde bebo os teus segredos que escorrem por esses sulcos fundos da alma.
Com os dedos contorno cada cabelo teu rabiscando-te o cérebro com mensagens codificadas mas que o coração sabe ler e guardar.
Vou temperando o meu corpo cru com diferentes sabores, dando-te a provar, a pouco e pouco, cada gota deste meu ser agri-doce. Tu pedes mais e eu dou-te o aroma da seda e o perfume do vinho aveludado que nos afoga por dentro e nos faz esquecer quem somos.
Tu não és uma ilha és um continente e pertences a muita gente por isso prego-me ao teu chão e deixo o vento varrer o resto...

terça-feira, 23 de agosto de 2005

Metamorfose


Preciso escrever para tentar perceber para onde vou, para onde me levas.
Preciso abrir caminho por entre as artérias do meu coração, para deixar circular os sentimentos que já não sabem que rumo tomar.
Preciso limpar a cara e o sorriso, lavados de lágrimas tão gastas que já nem sabem a sal.
Preciso reprogramar o cérebro e apagar estes virús que a vida foi deixando e que fazem com que a razão e a emoção se anulem mutuamente numa guerra constante sem vencedores, só vencidos.
Preciso deixar de parte todos estes cheiros que se acumularam nas narinas e me sufocam e me hipnotizam... para respirar oxigénio puro, para me conseguir respirar a mim.
Preciso revitalizar a pele gasta de tanto tocar, de tanto tactear, de tanto roçar e arrepiar, para ter coragem de me olhar nua ao espelho.
Preciso esfregar a língua tonta e cuspir até secar para poder voltar a falar de mim.
Preciso queimar velas de palavras que me entopem os ouvidos para ouvir de novo o mar, os pássaros e a minha voz esquecida.
Preciso renovar as películas sujas que me toldam a visão para fora e para dentro...
Preciso de voltar a encontrar-me comigo...

sexta-feira, 5 de agosto de 2005

Aquele que partiu


(à tua memória Ziito)

Aquele que partiu
Precedendo os próprios passos como um jovem morto
Deixou-nos a esperança.
Ele não ficou para connosco
Destruir com amargas mãos seu próprio rosto
Intacta é a sua ausência
Como a estátua dum deus
Poupada pelos invasores duma cidade em ruínas
Ele não ficou para assistir
À morte da verdade e à vitória do tempo
Que ao longe
Na mais longínqua praia
Onde só haja espuma sal e vento
Ele se perca tendo-se cumprido
Segundo a lei do seu próprio pensamento
E que ninguém repita o seu nome proibido.

Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 4 de agosto de 2005

Sinto a tua falta...


Sinto o teu mar gelado inundar os nossos sonhos, que quisemos construir sem bases e que desmoronaram ao primeiro sopro... Ainda preciso tanto do teu calor que me inunda a pele em desejos, das tuas palavras de repreensão que me chamam à terra, da tua mão presa no meu cabelo e do meu cabelo espalhado pelo teu corpo... Já não calas a minha boca com a tua e com isso eu digo tudo o que me vem à cabeça. Já não posso passar a minha língua pelo teu peito, pelos mamilos, e sentir esse suave trago de prazer que me fazia sentir viva, que fazia valer a pena...
Tentei... este tempo todo tentei fazer-te feliz... Mas não te posso dar algo que não tenho e o que resta em mim não te faz falta... Sobra-nos aos dois.... Que caminho tenho agora à minha frente? Para onde olho só vejo espelhos e todos eles refletem a minha angústia... Podiamos nós ter sido alguém sem ser preciso morrer primeiro?
Quando me abraçavas eu penetrava em ti e depois penetravas em mim e eu abraçava-te com força... Assim andamos enrolados e entontecidos, muitas vezes sem saber onde começávamos e onde terminávamos. Depois de tantas voltas o coração ficou enjoado e quis paz.... Mas já só sabiamos tirar ao outro o ar que faltava em cada um de nós, separados...
Eu gosto de ti e tu... tu gostavas de também gostar de mim... Ambos sabemos que as coisas não são assim... E mesmo sem querermos voltamos ao início do fim onde eu te olho com o fogo a queimar-me a vista e tu com esse mar gelado que me inunda...
E ainda preciso tanto de ti e dos sonhos que não conseguimos construir...

domingo, 26 de junho de 2005

Nada


Ele estava sozinho. Mas não sabia.
Os dias passavam depressa. Ele não sentia.
O corpo começava a ceder ao tempo. Ele não resistia.
O coração gritava por emoção. Ele não ouvia.
E um dia, vazio, desejou morrer. Mas já não vivia.

sexta-feira, 20 de maio de 2005

Espero outra noite


Durante quanto tempo mais nos vamos olhar com este brilho
que nos ofusca o peito
e o atira ao ar
e nos faz tremer?

Quantas voltas já deram estes ponteiros
que, já tontos, se trocam
e nos fazem desencontrar?

Quantas vezes já bateram os nossos corações
descontrolando-se ao ouvir estas palavras banais
que se dão,
se encontram ,
se tocam,
se abraçam,
se beijam
e se desfazem num sopro de vento?
E esta magia que nos prende sem nos dar explicação e que demora?
De onde surgiu?
Quem a trouxe?

Talvez aquela noite em que fugi da vontade que nos saía pela boca
e pela pele
tivesse luar.
Talvez esse luar nos espelhasse as almas,
uma de encontro à outra,
sem que elas se conseguissem mais distinguir...
Talvez por isso te veja nos meus olhos
e me sinta tão perdida em ti...
Quero que me entregues de novo a mim.
E digo-te isso todas as noites baixinho...
...ao meu ouvido.

quinta-feira, 12 de maio de 2005

Tanto Tempo!...



Tanto tempo passou...
Tanto tempo vazio se queima em chamas gélidas de tédio e angústia...
O tempo que fez de mim o que sou hoje...
O tempo que passa longe, me observa, e foge...

Minha alma ficou presa na tua. Não se consegue soltar.
Meu corpo procura outros corpos. Não se consegue demorar.
Presa num ciclo vicioso sei de cor os caminhos por onde passo, e volto a passar.
Tanto tempo à minha volta a rodopiar...
Entonteço...
Caio e torno-me a levantar.
Qualquer dia deixo-me ficar.
Páro de sentir e de pensar.
(Talvez consiga fazer o tempo parar)

Tanto tempo devorando tempo...
Este tempo em que te trago colado a mim,
como um lamento!...

terça-feira, 3 de maio de 2005

Como uma larva no coração



Meu amor...

Diz-me,
quantas vezes já me lancei para este mesmo precipício pensando ser a paz para todas as dores?

Diz-me,
quantas vezes parti os sentidos em mil pedaços tentando refazer o puzzle?
E choro...
E grito...

Barafustando contra a vida que me faz gemer a pele...

Chamo por ti mas tu não me ouves.
Cantas e danças por dentro do vazio do meu peito...
E eu peço-te uma lágrima solidária.
Peço-te um gesto de atenção.
Tu corres por mil caminhos de sonhos que não são meus...
Diz-me,
quantas vezes, tantas, eu me sentei a teu lado esperando um olhar breve?

E diz-me,
quanto mais aguentará este sopro que, cada vez mais ténue, me empurra de encontro a ti?

Meu amor...

domingo, 6 de março de 2005

Matéria



Por dentro desta carne dura de ternos cansaços,
Por dentro desta simples matéria
que se entrega sem hesitar nos teus braços,
Dentro de cada veia,
cada artéria irrigada de suspiros...
Por dentro desta pele feia
que se demora em frente a espelhos partidos...
Intensamente cravado no seio desta aparência
de pulmões fodidos...
Está...
Um coração filho-da-puta
que se rende sem dar luta
a ti,
cabrão de um qualquer lugar!

sábado, 5 de março de 2005

Restos


Necessito esvaziar este líquido que me inunda.
Sofrer para sentir que estou viva e estou aqui.
custa demorar ao teu lado porque me queres fazer sentir bem e não é isso que preciso.
Quero desiquilibrar este barco em que me embalas ao longe e deitar ao lixo o sorriso.
Apaga a serenidade desses gestos que me tapam os ouvidos com flores e troca-me as dores...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

O principiar precoce do precipício


Sinto-me cair mais uma vez. Quedas lentas e angustiantes onde nunca se vê o fim.

Danço de olhos fechados ao ritmo dos meus fluídos orgânicos.

Fecho-me em posição fetal tentando alcançar algum conforto.

Tu estás lá mas é como se não estivesses. O tempo passou mas não nos deu os laços que procurávamos. Não nos deu o renascer das cinzas mas apenas uma chama breve que, por momentos, nos aqueceu.

Não sei para que lado virar a boca, os olhos, o coração. Não sei se te deixo ficar. Não sei se parta.

Queria agarrar-te com todo o meu ser e empurrar-te com toda a minha raiva. Queria morder-te para depois te beijar sentindo o salgado deste mar que me inunda por dentro e quase me afoga. E queria sentir-te a arder para poder descongelar a alma.

Que fazemos os dois aqui? Os dois imóveis como múmias que se querem libertar sem saber como. Os dois olhando-se sem se ver. Tocando-se sem se sentir. Falando sem se ouvir. Também tu tens algo dentro de ti que pede mais. Também tu não sabes o que esperas encontrar para além dessa utopia de querer alcançar o bem-estar supremo. Essa insatisfação que é a única certeza que permanece no peito.

Por isso escrevo sempre. Tentando encontrar nestas palavras um rumo. Um sentido. Algo que me faça aperceber-me de mim para além do espelho. Talvez não haja nada a fazer. Talvez vá ser sempre assim.

O magnetismo que me fez encostar em ti permanece de maneira diferente.
Num abraço.
Num olhar.
Num sorriso.
Num suspiro...
Mas, principalmente, quando não estás e eu te vejo dentro de mim.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

Raio X


Encontrar uma saída
Pensamento... Reflexão...
Sobre esta vida perdida
Na palma da tua mão.

Querer ter aquilo que ninguém dá
Querer saber o que ninguém sabe
Sede de viver o que não há
E que no pensamento não cabe...

Encontrar de novo a entrada
Pensamento... Reflexão...
Sobre esta vida parada
À tua frente - no chão!

Sair... Entrar...
Entrar... Sair...
E continuar a amar
Esta vida sem aluir.

Sair da vida para o pensamento
E do pensamento para a vida
Evadir-me (mas só por um momento!
Não vá ficar esquecida!...)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2005

Trevas de quatro folhas...


Já não procuro as palavras certas porque não tenho mais a sombra onde as escondia.

Falta-me a claridade para os meus dedos darem forma às palavras que se misturam, se entrecortam e se anulam.
Falta-me aquela luz branca que me saía dos olhos a iluminar a folha escura.

Falta-me o brilho das lágrimas que me afogavam a alma.
Falta-me o fogo da pele que me incendiava os sentidos.
Falta-me o crepúsculo onde guardava os meus sonhos perdidos.

Falta-me o amanhecer entre as tuas pernas...

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2005

Falena



Até que ponto é real este sonho que vivemos?
Por quanto tempo este líquido prazer nos inundará por dentro?
Quando estou contigo não há passado nem presente. Não há tempo. São momentos estanques. Fragmentos de vidas unidas por um desejo ofegante de eternidade.
O meu corpo sempre foi fácil de conquistar... Sempre estive disponivel para tentar. Mas a minha alma hesita quando sente o frio do meu coração aquecer com outro coração acelarado...
Ainda não conseguimos iluminar este sentimento que se esconde em gemidos negros. Ainda não conseguimos adivinhar o que lhe vai por dentro pois a sua brisa ainda apaga o fogo das nossas velas. Mas a sua tinta vai-se espalhando sem darmos conta. Vai lentamente acariciando a tela do nosso corpo com cores que não aprendemos a ler. A melodia que nos embala, por vezes serena por vezes tempestuosa, é o nosso único guia para esta paixão física alcançar o nirvana.
Consegues espreitar através destas minhas janelas de vidro quebradas? Que procuras aqui neste espaço tão meu? Deslizando para mim ao ritmo sincopado deste orgão que me magoa o peito, segues ao pormenor as suas indicações para não te perderes no seu labirinto. E eu, como se fosse tua, resisto... insisto... existo... Vou sentindo a tua fome lamber-me as feridas por baixo da carne. Tenho algo não definido que me pica por dentro. Tenho algo que preciso de agarrar com força, atirar cá para fora e espalhar pelo meu céu. Por isso, prende-me nas tuas asas e leva-me a voar nos teus sonhos. Solta-me no ar e deixa que as borboletas do meu estômago nos guiem para a luz onde o vento nos dá a beber o elixir da liberdade.
Aconteça o que acontecer, o tempo vai nos dar tempo para purificar a alma e cicatrizar as feridas do coração.

terça-feira, 18 de janeiro de 2005

O ALFA E O ÓMEGA


Ando aliando amores
Amanhecidos...
Em amanhãs anteriores
Acordo azares antes acontecidos.
Aclamo anseios
Apertando os seios
Antecipo abraços...
Beijo bocas borradas de batom
Busco brincadeiras,
Broncas,
Bebedeiras...
Corre o coração corrompido
Cantando cortantes canções
Calando o cupido
Consentindo colecções...
Cópias cansadas
Cortadas
Coladas...
Discussões.
Desço dentro do desejo
Dobro as dores dançantes.
Dominando o desleixo
Declamo doentes amantes....
Deito-me desesperada
Dizendo-me descansada.
Deixo-me dormir
Desfeita...
Embriagada.
Em escuros estridentes
Esboçam-se esperas
Esculpem-se esperanças
Estragam-se os encontros
Encandeiam-se as feras.
Feridas fundas.
Fissuras fantasmagóricas.
Frases feitas.
Fendas infecundas.
Fico farta.
Gasto as gotas
Gabo gostos
Grito golos.
Histerismo.
Homens.
Imagens indefinidas
Dos instintos inconstantes
Incendeiam interiores imaculados
Invisíveis...
Idealizados...
Juras e jogos.
Lamentos lançados
Leituras lentas...
Lambem-se os laços.
Os lóbulos.
A língua.
Os mamilos.
Morde-se.
Manda-se.
Morre-se.
Magnitude do misticismo
Mistificação do magnetismo.
Mulher.
Magia.
Molho minhas mãos
No mistério do teu mar.
Nunca nada aí nadou
Nem ninguém...
Namorar.
Odiar.
Ósculos oprimidos.
Odores ofegantes.
Óleo.
Pelo principiar das pernas.
Presas.
Paradas.
Procura de promessas eternas.
Paixões possessivas.
Palavras pintadas pronunciadas
Posteriormente apimentadas.
Queixas.
Queixos.
Querer.
Quantidade.
Querer.
Qualidade.
Quanto querer?
Quando querer?
Quem?
Rasga-se a roupa
Recortam-se ressentimentos
Repetem-se as raivas
E repelem-se os rotos rolamentos
Numa rara redundância...
Reestruturação do riso
Retratos restaurados
Rostos que choram
Rastejando para alcançar o céu...
Sonhos sedentos serpenteiam
Sangrando segredos
Sem sombras...
Se me sento sozinha
Sinto saudades sem saber...
Saboreio sentidos solitários
Sussurro silêncios surdos
Seguro ciúmes cegos...
Tenho tudo trocado
Teço tecidos torcidos
Travando touradas
Com touros tingidos
E trago-te temeroso.
Uivos.
Ulceras.
Unhas.
Umbigos.
Vagueio ao vento.
Voo.
Vou.
Volto.
Velocidade.
Vertigem.
Vaidade.
Vénus voluptuosa.
Vícios verticais.
Vinte.
E um.
Vodka.
Whisky.
Xeque-mate.
Zero.
Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz...

segunda-feira, 10 de janeiro de 2005

Nagalhé


Desafio-te a mergulhares comigo neste silêncio ensurdecedor onde todos os sentidos gritam de sensibilidade. Acorda para este sono de insónias repetidas onde os sonhos fogem para um abismo de cores acrobáticas. Neste mundo de real fantasia tudo se acha quando se perde e tudo se ganha quando já não se quer. Por isso, vem provar um pouco daquilo que fecundaste na minha imaginação e que cresceu sem proporção.
Sempre achaste que eu pedia demais. E como se pode pedir demais quando não se recebe nada?
Desafio-te a voares para fora de ti nesse espaço sem espaço onde todos os pássaros suplicam por um pouco de ar. Explode para esse reservatório de memórias esquecidas onde os pesadelos te embalam em suaves melodias. E fecha os olhos para que, finalmente, te possas ver sem ornamentos idealistas e despojado de influências ridículas.
Sempre puseste os teus interesses acima de tudo. E como poderás alcançá-los sem os meios que estão por baixo?
Salta para os teus calcanhares e vê o que te apoia. Abraça os teus medos, os teus fracassos, as tuas vergonhas. Dança sozinho ao ritmo dos teus lamentos e chora os teus irreais sucessos de areia. Observa o espelho partido dos teus olhos vazios e enche-os de mar. Planta flores no jardim do teu coração e limpa as folhas secas de um Outono passado.
Eu estarei aqui quando não voltares. Nem indigente nem abandonado.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2005


Os meus sentidos estão mergulhados numa inércia estigmatizante. Corro para dentro de mim tentando salvar o que já morreu. E busco, neste abismo de calafrios, algo que me devolva a paz.
Foste embora sem avisar e rompeste barreiras proibidas. Arrancaste, com uma força brutal, tudo o tinha guardado de ti e o vazio ficou a doer e a sangrar. Perdeu-se, nesse teu gesto de vida, toda a magia que nos unia. Agora só me resta a brandura de uma natureza que me acolhe no seu seio e as minhas sinapses cerebrais que, por ti, tantas vezes ignorei.
Tu vais destemido, com o sorriso que tantas vezes pensei meu, e eu espero, com a agonia tranquilizante que me resta, que ele dure e te envolva - para que nunca sintas desejo de voltar.