sexta-feira, 20 de maio de 2005

Espero outra noite


Durante quanto tempo mais nos vamos olhar com este brilho
que nos ofusca o peito
e o atira ao ar
e nos faz tremer?

Quantas voltas já deram estes ponteiros
que, já tontos, se trocam
e nos fazem desencontrar?

Quantas vezes já bateram os nossos corações
descontrolando-se ao ouvir estas palavras banais
que se dão,
se encontram ,
se tocam,
se abraçam,
se beijam
e se desfazem num sopro de vento?
E esta magia que nos prende sem nos dar explicação e que demora?
De onde surgiu?
Quem a trouxe?

Talvez aquela noite em que fugi da vontade que nos saía pela boca
e pela pele
tivesse luar.
Talvez esse luar nos espelhasse as almas,
uma de encontro à outra,
sem que elas se conseguissem mais distinguir...
Talvez por isso te veja nos meus olhos
e me sinta tão perdida em ti...
Quero que me entregues de novo a mim.
E digo-te isso todas as noites baixinho...
...ao meu ouvido.

quinta-feira, 12 de maio de 2005

Tanto Tempo!...



Tanto tempo passou...
Tanto tempo vazio se queima em chamas gélidas de tédio e angústia...
O tempo que fez de mim o que sou hoje...
O tempo que passa longe, me observa, e foge...

Minha alma ficou presa na tua. Não se consegue soltar.
Meu corpo procura outros corpos. Não se consegue demorar.
Presa num ciclo vicioso sei de cor os caminhos por onde passo, e volto a passar.
Tanto tempo à minha volta a rodopiar...
Entonteço...
Caio e torno-me a levantar.
Qualquer dia deixo-me ficar.
Páro de sentir e de pensar.
(Talvez consiga fazer o tempo parar)

Tanto tempo devorando tempo...
Este tempo em que te trago colado a mim,
como um lamento!...

terça-feira, 3 de maio de 2005

Como uma larva no coração



Meu amor...

Diz-me,
quantas vezes já me lancei para este mesmo precipício pensando ser a paz para todas as dores?

Diz-me,
quantas vezes parti os sentidos em mil pedaços tentando refazer o puzzle?
E choro...
E grito...

Barafustando contra a vida que me faz gemer a pele...

Chamo por ti mas tu não me ouves.
Cantas e danças por dentro do vazio do meu peito...
E eu peço-te uma lágrima solidária.
Peço-te um gesto de atenção.
Tu corres por mil caminhos de sonhos que não são meus...
Diz-me,
quantas vezes, tantas, eu me sentei a teu lado esperando um olhar breve?

E diz-me,
quanto mais aguentará este sopro que, cada vez mais ténue, me empurra de encontro a ti?

Meu amor...